A Reconfiguração do Cenário Global e a Resposta de Santa Catarina
A dinâmica do comércio global vive um período de intensa volatilidade, impulsionado, em grande parte, pelas políticas tarifárias dos Estados Unidos. Esse cenário de incertezas está forçando indústrias ao redor do mundo a reavaliar suas estratégias e a buscar a diversificação de mercados. Em meio a essa reconfiguração, o Brasil e, em especial, o estado de Santa Catarina, veem na União Europeia uma janela de oportunidade estratégica. O recente webinar, promovido pela Câmara Italiana de Comércio e Indústria de Santa Catarina (CCIESC), serviu como um catalisador para esse debate, reunindo líderes da indústria, representantes governamentais e diplomatas para discutir como as empresas catarinenses podem fortalecer sua presença no mercado europeu.
Este artigo explora os pontos-chave do evento, as perspectivas para a conclusão do acordo Mercosul-UE, os desafios enfrentados por setores como o de pescados e café e as vantagens competitivas que a indústria catarinense possui para se consolidar como um parceiro comercial de peso para a Europa.
Um Momento Geopolítico Único: O Otimismo com o Acordo Mercosul-UE
A grande expectativa do encontro girou em torno da iminente conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia. Em negociação há mais de 25 anos, o tratado é visto como uma oportunidade histórica. O embaixador do Brasil em Roma, Renato Mosca, destacou a convergência de fatores geopolíticos que tornam este o momento ideal para a aprovação. "Este é um momento geopolítico único, em que todos os fatores convergem para essa aprovação. O acordo Mercosul-UE é uma janela de oportunidade que pode não se repetir", pontuou o diplomata, reforçando o otimismo de que as barreiras burocráticas serão superadas.
Essa visão é compartilhada pelo deputado italiano Fabio Porta, que reforçou a necessidade de uma "conclusão histórica" do acordo ainda em 2025. Porta defendeu a complementaridade dos mercados brasileiro e europeu, ressaltando que a Itália, por exemplo, está entre os países que mais se beneficiariam, podendo absorver até 20% das oportunidades geradas. Para ele, a relação vai além do comércio, representando um fortalecimento dos laços culturais e fraternos entre as regiões.
Reorganização de Cadeias: O Setor de Café e as Tarifas Americanas
As tarifas impostas pelos Estados Unidos têm um impacto direto e imediato em setores-chave da economia brasileira. Micheli Poli Silva, presidente da Câmara de Alimentos e Bebidas da FIESC, usou o mercado de café como um exemplo claro. Com a perda de competitividade nos EUA, que consomem anualmente 24 milhões de sacas e importam 8 milhões do Brasil, o setor cafeeiro brasileiro precisa de novos destinos para um volume significativo de sua produção. A solução, segundo a especialista, é justamente mirar em mercados alternativos como Alemanha, Bélgica, Japão, e países da Ásia e Oceania.
O cenário, apesar de desafiador, é visto por Micheli também como uma chance de reorganizar as cadeias globais e reforçar parcerias existentes. A Europa, sendo o maior consumidor de café do mundo com 53 milhões de sacas anuais, emerge como o principal alvo para a indústria brasileira, evidenciando a necessidade urgente de fortalecer esses laços comerciais.
Pescados e Barreiras Sanitárias: Uma Oportunidade a Ser Resgatada
Um dos pontos mais sensíveis e estratégicos do debate foi o bloqueio às exportações de pescados brasileiros para a União Europeia, vigente desde 2018. Para Santa Catarina, o maior exportador nacional do setor, a retomada dessas operações é de extrema importância. O secretário estadual de Aquicultura e Pesca, Tiago Frigo, e a presidente da Cidasc, Celles Regina de Matos, destacaram os esforços em curso para reverter a situação.
Frigo enfatizou que a suspensão não foi uma imposição, mas uma decisão voluntária do Brasil, tomada como medida preventiva diante de inconsistências sanitárias apontadas por auditorias da UE. O governo catarinense, em parceria com o setor, trabalha para demonstrar seu compromisso com as boas práticas sanitárias. A previsão de visitas técnicas de empresas italianas em outubro, e uma missão empresarial do estado para a Itália, são vistas como passos concretos na direção da reabertura do mercado. Com 593 empresas do setor e 24% da mão de obra nacional na área, o potencial de Santa Catarina é imenso.
Para acelerar o processo, Celles Regina de Matos, da Cidasc, colocou a instituição à disposição do Ministério da Agricultura para assumir a certificação das embarcações, um dos requisitos para a liberação dos produtos. "Se essa for uma dificuldade, ela não existe. A porta está aberta. Precisamos apenas de um termo de cooperação", afirmou, demonstrando a disposição do governo catarinense em resolver as pendências. A presidente da Câmara de Alimentos da FIESC, por sua vez, reforçou que a rastreabilidade e a segurança sanitária de produtos como ostras e mexilhões, nos quais o estado é líder, são diferenciais competitivos.
O Futuro da Indústria Catarinense em um Mundo em Mudança
O webinar em Florianópolis não foi apenas um debate; foi uma declaração de intenções. A indústria de Santa Catarina está atenta às mudanças globais e disposta a se adaptar para prosperar. A busca por novos mercados, especialmente na União Europeia, é uma estratégia inteligente para mitigar os riscos das tarifas americanas e fortalecer a economia local. O presidente da CCIESC, Tullo Cavallazzi, sintetizou o objetivo do evento: aproximar a embaixada de Roma do estado de Santa Catarina e da FIESC, pavimentando o caminho para um futuro de parcerias comerciais mais sólidas e diversificadas. A janela de oportunidade está aberta, e a indústria catarinense se prepara para aproveitar ao máximo, mostrando que, mesmo em um cenário de incertezas, a busca por novos horizontes é a chave para o sucesso.
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