Uma manhã de lazer e esporte à beira-mar quase se transformou em tragédia neste sábado, dia 21, na Praia do Leme, na zona sul do Rio de Janeiro. Uma ventania repentina arrastou mais de 100 praticantes de stand up paddle para longe da orla, forçando uma grande operação de resgate coordenada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) e guarda-vidas do Grupamento Marítimo.
Ao todo, 73 pessoas precisaram ser resgatadas, algumas a mais de 500 metros da costa. O episódio serve de alerta para quem pratica esportes náuticos, especialmente em um cenário de mudanças climáticas e condições meteorológicas imprevisíveis.
Este artigo detalha o que aconteceu no Leme, explica por que fenômenos como esse são perigosos, mostra como foi a operação de resgate, reúne dicas de segurança de especialistas e aborda a importância da prevenção para evitar novos sustos no litoral brasileiro.
1. O que aconteceu na Praia do Leme
Por volta das 8h da manhã, dezenas de praticantes de stand up paddle — modalidade que ganhou enorme popularidade nos últimos anos por unir lazer, exercício e contato com o mar — lotavam a faixa de mar calmo próximo à orla do Leme. O tempo estava firme, com céu parcialmente nublado, e não havia alerta imediato de mudança drástica.
Segundo relatos de frequentadores e instrutores, em questão de minutos o vento virou de direção e ganhou força, criando ondas maiores e correnteza que dificultaram o retorno dos praticantes à praia. Sem força para remar contra o vento e a corrente, muitos foram levados para áreas mais fundas.
Algumas pessoas conseguiram remar de volta com ajuda de amigos ou instrutores, mas outras precisaram ser resgatadas pelos bombeiros, que foram acionados por banhistas e quiosqueiros da orla.
2. A maior operação de resgate do ano
O Corpo de Bombeiros informou que mobilizou ao menos três embarcações, motos aquáticas e helicópteros do Grupamento de Operações Aéreas. Guarda-vidas entraram no mar com pranchões e jet skis para alcançar as vítimas rapidamente.
O resgate durou mais de duas horas e exigiu coordenação intensa, já que muitos praticantes estavam em grupos dispersos em mar aberto. Uma base de apoio foi montada na areia para receber os resgatados, verificar sinais vitais e prestar os primeiros socorros.
O CBMERJ confirmou que pelo menos oito pessoas precisaram de atendimento médico no local por exaustão, hipotermia leve e escoriações, mas felizmente não houve mortes nem feridos graves.
3. Como a ventania surpreendeu
Especialistas em meteorologia explicam que mudanças bruscas de vento são comuns em regiões costeiras, especialmente no Rio de Janeiro, onde a topografia montanhosa interfere nas correntes de ar.
No caso do Leme, rajadas vindas do sul encontraram ar mais quente e calmo na orla, formando uma frente de vento que aumentou a força das ondas e empurrou as pranchas para mar aberto. Mesmo praticantes experientes tiveram dificuldade de controlar a prancha, pois o stand up paddle depende diretamente do equilíbrio e da força de remada do atleta.
4. O crescimento do stand up paddle no Brasil
O stand up paddle, ou SUP, conquistou milhares de adeptos no país na última década. De fácil acesso e praticável em mares, rios e represas, o esporte une diversão e condicionamento físico.
No Rio de Janeiro, praias como Leme, Copacabana, Barra da Tijuca e Recreio são pontos tradicionais para a prática. Escolas de surfe e operadoras de turismo oferecem aulas, aluguel de pranchas e passeios guiados.
Segundo dados da Associação Brasileira de Stand Up Paddle, estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros já tenham experimentado o esporte ao menos uma vez, e cerca de 300 mil praticam regularmente.
5. Riscos do SUP e cuidados essenciais
Apesar de ser considerado um esporte seguro, o stand up paddle exige atenção às condições do mar. O vento é o fator que mais preocupa os instrutores. Correntes fortes, mudanças súbitas de direção e mar agitado podem derrubar o praticante ou arrastá-lo para longe da costa.
Veja algumas orientações de segurança recomendadas pelo Corpo de Bombeiros e instrutores profissionais:
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Verifique a previsão do tempo: Nunca confie apenas na aparência do mar. Use aplicativos de meteorologia e observe alertas de vento.
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Use colete salva-vidas: Em caso de queda na água, o colete garante flutuação mesmo em exaustão.
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Evite remar sozinho: Prefira sair em grupo ou com instrutores experientes.
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Informe alguém em terra: Compartilhe seu trajeto e combine um horário de retorno.
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Leve apito ou sinalizador: Útil para chamar atenção de embarcações ou equipes de resgate.
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Respeite áreas de navegação: Evite zonas onde circulam lanchas e barcos maiores.
6. Como a comunidade local reagiu
Moradores do Leme e frequentadores da praia elogiaram a rapidez da resposta dos bombeiros, mas também destacaram a importância de educar turistas e praticantes ocasionais sobre os riscos do mar.
Instrutores relataram que muitos turistas alugam pranchas sem qualquer aula básica ou instrução de segurança, confiando apenas em boias improvisadas ou na tranquilidade aparente do mar. Esse comportamento aumenta o risco de acidentes, especialmente em casos de ventania repentina.
7. O papel das escolas e operadoras de turismo
Empresas que alugam pranchas ou organizam passeios de stand up paddle têm responsabilidade sobre a segurança dos clientes. Segundo a Associação Brasileira de Stand Up Paddle, é obrigação de cada escola oferecer equipamentos em bom estado, coletes de flutuação e instruções de uso.
Também é recomendável que operadores monitorem constantemente a previsão do tempo e cancelem atividades em caso de ventos acima de 20 km/h ou mudanças bruscas nas condições do mar.
8. Mudanças climáticas e eventos extremos
Meteorologistas chamam a atenção para o fato de que fenômenos climáticos extremos têm se tornado mais comuns e intensos. O aquecimento global interfere na circulação de ventos, favorece tempestades localizadas e amplia a frequência de ventanias repentinas.
Para especialistas, é fundamental que frequentadores de praias entendam que o mar está mais imprevisível do que há décadas atrás, o que exige cuidado redobrado em esportes náuticos e atividades de lazer no litoral.
9. O que fazer em caso de emergência no mar
Em situações de risco, mantenha a calma. Tentar nadar contra a corrente pode causar exaustão. Em vez disso, siga estas orientações de bombeiros:
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Permaneça flutuando e conserve energia.
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Tente sinalizar para a praia ou para embarcações.
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Se estiver em grupo, mantenham-se juntos para facilitar o resgate.
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Ligue imediatamente para o 193 ou peça ajuda a quem estiver na areia.
10. A importância de políticas públicas
Acidentes como o do Leme reforçam a importância de investir em sinalização de risco, monitoramento meteorológico em tempo real, treinamento de guarda-vidas e campanhas de conscientização para turistas e moradores.
Em muitos pontos do litoral brasileiro ainda faltam placas informativas, torres de vigia e presença constante de equipes de resgate, o que pode agravar situações de perigo.
O resgate de 73 praticantes de stand up paddle na Praia do Leme é mais do que um susto coletivo: é um lembrete de que o mar, embora convidativo, é imprevisível e exige respeito. Cada vez mais pessoas aderem a esportes náuticos sem o preparo necessário para lidar com situações de risco.
Cabe às autoridades, empresas de turismo e aos próprios praticantes redobrar os cuidados, valorizar a informação e investir em equipamentos de segurança. Assim, o stand up paddle continuará sendo uma fonte de saúde, diversão e contato com a natureza, mas com muito mais segurança.
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