A saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a ser tema de repercussão nacional, desta vez não por suas falas ou posicionamentos políticos, mas por uma crise clínica que exigiu atenção médica urgente e provocou grande comoção pública. Após 18 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, ele foi transferido para um quarto comum, marcando um novo estágio em sua recuperação. No entanto, seu momento delicado de saúde não o afastou completamente das tensões políticas e judiciais que continuam a cercá-lo. O episódio revela a interseção entre fragilidade física e exposição pública, numa trajetória que mistura drama pessoal e embates institucionais.
Quadro clínico exigiu cirurgia de alta complexidade
Jair Bolsonaro foi internado no dia 12 de abril, após sentir fortes dores abdominais durante compromissos no Rio Grande do Norte. Os exames médicos identificaram um grave quadro de obstrução intestinal, o que exigiu uma cirurgia de emergência. O procedimento, que durou aproximadamente 12 horas, incluiu a desobstrução do intestino e a reconstrução da parede abdominal — mais um desdobramento do atentado sofrido durante a campanha eleitoral de 2018, quando foi esfaqueado em Juiz de Fora (MG). Esta foi a sexta intervenção cirúrgica relacionada àquele episódio.
A longa permanência na UTI se deu não apenas pela complexidade da cirurgia, mas também pela instabilidade do quadro clínico nas primeiras semanas. Segundo boletins médicos divulgados pelo hospital, Bolsonaro apresentou sinais de aderência intestinal, febre e episódios de dor intensa, que exigiram cuidados intensivos constantes. A equipe médica optou por manter o ex-presidente sedado por alguns dias, até que seu organismo começasse a reagir positivamente.
Transferência marca nova etapa da recuperação
No dia 30 de abril, após sinais consistentes de melhora, Jair Bolsonaro foi transferido da UTI para uma unidade semi-intensiva e, posteriormente, para um quarto comum. Essa movimentação indica que os riscos imediatos foram superados, embora a recuperação completa ainda demande cautela e acompanhamento contínuo. Fontes próximas à família relataram que o ex-presidente está se alimentando com auxílio de dieta líquida, caminhando com o apoio de fisioterapeutas e em constante contato com seus médicos.
A expectativa é de que Bolsonaro receba alta nos próximos dias, caso não haja intercorrências. Ele deve continuar a reabilitação em casa, com visitas médicas frequentes e, possivelmente, sessões de fisioterapia para recuperar a força muscular e a mobilidade abdominal.
Internação não afastou exposição política
Apesar da grave condição clínica, Jair Bolsonaro não deixou de participar do noticiário político nacional durante a internação. Em meio ao processo de recuperação, ele foi oficialmente notificado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre sua inclusão nas investigações que apuram a tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022.
A notificação ocorreu depois de Bolsonaro realizar uma transmissão ao vivo direto do hospital, o que serviu como argumento legal para demonstrar sua plena capacidade cognitiva. Essa transmissão gerou debates entre apoiadores e críticos, uma vez que, mesmo hospitalizado, o ex-presidente optou por se manifestar publicamente em meio à fragilidade clínica.
Investigação sobre golpe mantém tensão no entorno do ex-presidente
A saída da UTI representa alívio para a família e os aliados do ex-presidente, mas não encerra o capítulo difícil em que Bolsonaro se encontra. A investigação conduzida pelo STF, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, busca esclarecer o grau de envolvimento do ex-presidente em articulações para desacreditar o resultado das eleições de 2022 e fomentar ações antidemocráticas.
Durante a internação, seus advogados chegaram a solicitar o adiamento de prazos processuais, alegando motivos de saúde. No entanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reforçou que, mesmo em recuperação, Bolsonaro continua apto a responder às demandas jurídicas. A expectativa é de que novos desdobramentos sejam conhecidos nas próximas semanas, com possíveis depoimentos e aprofundamento das investigações.
O atentado de 2018 e seus impactos duradouros
A cirurgia recente é mais uma das muitas consequências do atentado sofrido por Jair Bolsonaro em 2018. Desde aquele episódio, o ex-presidente passou por seis cirurgias, enfrentou complicações digestivas e precisou adaptar sua rotina a uma condição médica crônica. Médicos que o acompanham afirmam que o trato intestinal do ex-presidente apresenta sequelas permanentes, tornando-o vulnerável a quadros como obstruções, aderências e infecções.
O episódio mais recente reforça como o atentado moldou não apenas a trajetória política de Bolsonaro, mas também sua vida pessoal. A dor e o trauma físico se tornaram, ao longo dos anos, uma constante que o acompanha em diferentes momentos — seja no exercício da presidência, em campanhas eleitorais ou agora, em sua condição de ex-mandatário e investigado judicialmente.
A comunicação direta com seus apoiadores
Mesmo debilitado, Bolsonaro utilizou suas redes sociais e aliados para manter contato com sua base política. A esposa, Michelle Bolsonaro, chegou a publicar mensagens de fé e agradecimento pelas orações recebidas, além de atualizações sobre o estado clínico do marido. Deputados, senadores e lideranças evangélicas visitaram o hospital, reforçando a imagem de união e solidariedade em torno do ex-presidente.
A estratégia de manter a visibilidade, mesmo em um momento delicado, segue o padrão adotado ao longo de sua carreira. Bolsonaro frequentemente recorre à comunicação direta com seus apoiadores para fortalecer sua imagem pública e evitar a mediação da imprensa tradicional.
Reflexos políticos no campo da oposição e da base aliada
A internação prolongada de Jair Bolsonaro também teve reflexos no tabuleiro político nacional. Enquanto seus aliados utilizaram o momento para reforçar a narrativa de perseguição judicial, a oposição questionou o uso político do quadro clínico. Parlamentares de diferentes espectros ideológicos destacaram a necessidade de se manter o foco nas investigações, independentemente da condição de saúde do investigado.
Ao mesmo tempo, o silêncio de Bolsonaro sobre temas sensíveis, como a recente crise no PL e a preparação para as eleições municipais de 2024, abriu espaço para especulações sobre seu futuro político. Há dúvidas se o ex-presidente conseguirá retomar a liderança ativa da direita brasileira após a recuperação ou se optará por uma postura mais discreta, delegando funções a aliados como Michelle Bolsonaro e Valdemar Costa Neto.
A saída de Jair Bolsonaro da UTI representa mais que um avanço clínico: é também um novo momento na vida de um dos personagens mais controversos da política brasileira recente. Enquanto sua saúde exige cuidados contínuos, o ex-presidente permanece sob o foco da Justiça, envolvido em investigações que podem impactar seu futuro político e pessoal. O entrelaçamento entre doença e disputa institucional torna este episódio mais do que uma questão médica — é um capítulo simbólico na trajetória de um líder que continua a dividir opiniões, mesmo à beira de um leito hospitalar.
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