Na tarde de quinta-feira, 2 de maio de 2025, o município de Cunha Porã, no Oeste de Santa Catarina, foi abalado por uma tragédia que mobilizou a comunidade rural e reacendeu o debate sobre segurança no campo. Gilmar Ceccon, de 62 anos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), morreu após ser atingido por uma raiz de árvore enquanto cortava lenha em uma área rural do município. O acidente, fatal e inesperado, levou à decretação de luto oficial e emocionou lideranças regionais e estaduais ligadas à agricultura familiar.
Mais do que uma perda individual, a morte de Gilmar Ceccon representa um alerta coletivo sobre os riscos enfrentados diariamente por trabalhadores rurais em atividades aparentemente rotineiras, mas que envolvem perigos muitas vezes negligenciados. Neste artigo, reconstituímos o caso, analisamos sua repercussão e discutimos a importância de medidas mais rigorosas de segurança para preservar vidas no campo.
O acidente: fatalidade em um dia de trabalho
Segundo informações confirmadas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, Gilmar Ceccon realizava o corte de lenha em um barranco, quando foi atingido por uma raiz de árvore que estava solta na parte superior da encosta. A estrutura cedeu repentinamente, desabando sobre ele.
Populares que estavam no local utilizaram um trator para remover a raiz do corpo do sindicalista antes da chegada dos bombeiros. Apesar da agilidade da equipe de resgate e das tentativas de reanimação, os ferimentos múltiplos foram fatais. A vítima sofreu politraumatismos graves e não resistiu.
A Polícia Militar, a Polícia Civil e a Polícia Científica foram acionadas para realizar os procedimentos legais. A causa exata do acidente será objeto de investigação, embora a dinâmica indique uma instabilidade natural do terreno, somada ao risco estrutural da árvore em questão.
Quem foi Gilmar Ceccon: um líder comprometido com o campo
Natural da região, Gilmar Ceccon era uma figura amplamente respeitada em Cunha Porã e municípios vizinhos. Além de sua atuação como presidente do STR local, ele também foi secretário municipal da Agricultura, exercendo papel fundamental na defesa da agricultura familiar.
Era conhecido por seu diálogo aberto com os agricultores, sua participação ativa em assembleias e sua presença constante nas comunidades do interior. Sua trajetória se destacava pela luta por melhores condições de trabalho, pelo acesso a políticas públicas rurais e pela valorização dos pequenos produtores.
A Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado de Santa Catarina (Fetaesc) emitiu uma nota oficial lamentando profundamente a morte de Gilmar, destacando sua trajetória como um “exemplo de compromisso, coragem e liderança”.
Luto oficial e homenagens públicas
Diante da comoção generalizada, a Prefeitura de Cunha Porã decretou luto oficial de três dias. Em nota divulgada nas redes sociais e no portal oficial do município, a administração municipal enalteceu a dedicação de Gilmar à comunidade cunha-porense e afirmou que seu legado será lembrado como inspiração para futuras gerações.
A câmara de vereadores também manifestou pesar e suspendeu temporariamente os trabalhos legislativos em respeito à memória do líder sindical. Diversas entidades, como cooperativas agrícolas, associações comunitárias e movimentos sociais, divulgaram mensagens de solidariedade à família e organizaram uma vigília em frente à sede do sindicato, onde centenas de pessoas passaram para prestar suas últimas homenagens.
Repercussão estadual e comoção entre sindicatos
A tragédia ganhou repercussão em nível estadual, especialmente entre as entidades ligadas ao meio rural. A Fetaesc mobilizou seus canais de comunicação para destacar a importância da trajetória de Gilmar Ceccon e promover um debate sobre os desafios enfrentados por trabalhadores do campo.
Sindicatos de diferentes regiões de Santa Catarina também se manifestaram. Em Chapecó, Concórdia e São Miguel do Oeste, foram realizadas reuniões extraordinárias com pautas voltadas à segurança do trabalho rural e à valorização da atuação sindical, muitas vezes feita de forma voluntária e com altos níveis de exposição a riscos físicos e emocionais.
A família: dor e solidariedade
Gilmar Ceccon deixa a esposa, Beloni Ceccon, e dois filhos, Ana Paula e Douglas Ceccon. A família, bastante conhecida na cidade, recebeu apoio da comunidade desde os primeiros momentos após o acidente. Amigos, colegas e vizinhos se mobilizaram para ajudar com os preparativos do velório e do sepultamento, além de oferecer apoio emocional.
Ana Paula, a filha mais velha, agradeceu as manifestações de carinho e destacou a paixão do pai pelo trabalho no sindicato:
“Ele acordava todos os dias com o mesmo propósito: defender os agricultores. Foi assim até seu último dia.”
Segurança no meio rural: o desafio invisível
A morte de Gilmar Ceccon escancara uma realidade muitas vezes ignorada: a insegurança em atividades rurais. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que o setor agrícola está entre os mais perigosos do mundo, com altos índices de acidentes fatais e graves.
Em Santa Catarina, onde a agricultura familiar é predominante, milhares de trabalhadores atuam em áreas de risco, como encostas, lavouras com uso de maquinário pesado, galpões improvisados e matas fechadas. O corte de lenha, embora comum, exige atenção redobrada quanto à estabilidade do terreno, uso de equipamentos de proteção e avaliação prévia das condições ambientais.
A ausência de normas específicas para algumas dessas atividades, bem como a informalidade nas tarefas realizadas em pequenas propriedades, agrava a situação. Especialistas recomendam o fortalecimento de campanhas de conscientização, treinamentos periódicos e a criação de protocolos de segurança adaptados à realidade do agricultor familiar.
O papel dos sindicatos e a importância da liderança local
Além de representar a categoria perante órgãos públicos, os sindicatos dos trabalhadores rurais têm papel fundamental na educação para a segurança do trabalho, na promoção de direitos e no fortalecimento da agricultura sustentável. A perda de lideranças como Gilmar Ceccon é, portanto, um golpe duro não apenas para sua comunidade, mas para o próprio movimento sindical.
Líderes locais como ele atuam muitas vezes sem holofotes, mas fazem a diferença na ponta: organizam reuniões, articulam pautas, garantem o acesso de famílias a programas sociais e constroem redes de apoio fundamentais em tempos de crise.
A formação de novas lideranças, especialmente entre os jovens do meio rural, é um desafio constante. O exemplo de Gilmar serve como inspiração, mas também como chamado à renovação e à continuidade do trabalho coletivo que ele ajudou a construir.
A tragédia que vitimou Gilmar Ceccon não deve ser lembrada apenas como um acidente isolado, mas como ponto de partida para uma reflexão urgente sobre a valorização da vida no campo. A segurança do trabalhador rural, a importância da liderança comunitária e o fortalecimento das redes de apoio são temas que merecem atenção contínua das autoridades, da sociedade civil e das famílias agricultoras.
O legado de Gilmar permanecerá vivo nos projetos que ajudou a construir, nas vidas que tocou e na consciência que despertou. Que sua história sirva de alerta, mas também de motivação para que outras lideranças se levantem em defesa do que ele sempre acreditou: o direito a um campo mais justo, seguro e digno para todos.
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