Em uma das maiores operações contra fraudes previdenciárias da história recente do país, a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram, nesta quarta-feira (23), a Operação Sem Desconto, que investiga um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. A ofensiva já resultou na apreensão de bens de alto valor, incluindo carros de luxo como Ferrari e Rolls-Royce, joias, quadros e dinheiro em espécie.
Com um único alvo de mandado judicial, as autoridades conseguiram confiscar R$ 15 milhões em bens, evidenciando a grandiosidade do esquema. As investigações apontam que o golpe teria movimentado cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
O golpe: descontos não autorizados em aposentadorias
Segundo a PF e a CGU, os investigados atuavam diretamente sobre os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), impondo descontos mensais não autorizados aos aposentados e pensionistas em nome de serviços e taxas vinculadas a associações, sindicatos e entidades fantasmas.
As vítimas, em muitos casos, não tinham conhecimento das cobranças e só percebiam os descontos ao consultar seus extratos bancários. O golpe teria afetado milhares de beneficiários em todo o país.
Apreensões milionárias: carros, dólares e obras de arte
Durante a operação, que teve alvos em 13 estados e no Distrito Federal, os agentes apreenderam itens de altíssimo valor:
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Uma Ferrari e um Rolls-Royce com um único investigado, totalizando cerca de R$ 15 milhões em bens;
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Mais de US$ 220 mil em espécie com outro investigado;
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US$ 150 mil com um terceiro alvo;
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Joias em Curitiba (PR) e quadros e dinheiro vivo em São Paulo (SP).
Em coletiva de imprensa, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que os resultados iniciais “confirmam a gravidade do caso e indicam um acerto preciso nas investigações”.
Bloqueio de R$ 1 bilhão em bens dos envolvidos
Além das apreensões, a Justiça autorizou o bloqueio de até R$ 1 bilhão em bens e valores dos investigados, como medida cautelar para futura reparação aos cofres públicos.
Seis servidores do INSS já foram afastados preventivamente, incluindo o presidente do órgão, Alessandro Stefanutto, e o diretor de benefícios, Vanderlei Santos. Um policial também foi afastado por suspeita de envolvimento no esquema.
Como funcionava o esquema
O esquema envolvia a manipulação de convênios firmados entre o INSS e entidades que ofereciam supostos serviços aos beneficiários. Esses convênios permitiam o desconto automático em folha de pagamento para taxas, mensalidades e seguros. Com base nisso, os fraudadores cadastravam ilegalmente os beneficiários, promovendo as cobranças sem consentimento.
Parte dos valores era desviada para empresas de fachada e contas controladas por operadores do esquema, incluindo servidores públicos.
O início de um longo processo
As autoridades reforçam que esta é apenas a primeira fase da investigação, que deve se estender nos próximos meses com a ampliação das apurações, novos mandados e possíveis prisões preventivas.
"A dimensão da fraude é imensa, e estamos falando de um prejuízo que afeta diretamente a população mais vulnerável, que depende do INSS para sobreviver", ressaltou o diretor da PF.
A Operação Sem Desconto escancara mais uma vez a fragilidade dos mecanismos de controle em programas sociais e previdenciários no Brasil. Com prejuízo bilionário e alvos de alto padrão de vida, a investigação revela um esquema sofisticado de corrupção, mas também um esforço robusto do Estado para desmontar práticas criminosas que lesam os cofres públicos e a dignidade dos aposentados brasileiros.
Enquanto as investigações seguem, cresce a expectativa por medidas de reparação e reforço na fiscalização de convênios firmados pelo INSS.
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